domingo, 25 de maio de 2008

Vestibular Letras-Libras

O vestibular para o curso de Letras-Libras acontece no próximo domingo dia 01/06/2008. O CAS deseja SORTE a todos os vestibulandos.
Lembramos que o curso preparatório para este vestibular acontece dos dias 26/05 à 30/05, apenas para os Surdos que ja efetivaram sua inscrição.
Os locais de prova bem como a concorrência dos cursos ja estão no site da coperve (www.coperve.ufsc.br). Não perca tempo, veja agora onde você fará sua prova
Mostraremos agora algumas dicas para que você possa fazer uma boa prova:
- Faça refeições leves e saudáveis antes da prova;
- Se for permitido, leve uma barrinha de cereais e água;
- Não corra o risco de pegar os portões fechados. Saia de casa com antecedência necessária para chegar, no mínimo, meia hora antes do início da prova;
- Evite álcool e baladas na noite anterior à prova;
- Isso é bem básico, mas vale lembrar que roupas confortáveis fazem a diferença. Já imaginou um salto apertado incomodando na hora de fazer a prova!
- Use truques pessoais para manter a calma antes e durante a prova (pode ser rir com os amigos, respirar fundo, ouvir música...);
- Cheque se a inscrição está em dia, assim como documentos pedidos pela UFSC;
- Caneta preta ou azul, lápis e borracha são fundamentais. Não conte com a ajuda dos outros vestibulandos. Eles têm mais o que fazer do que descolar material para outra pessoa;
- Lembre-se que toda questão será repetida novamente. Portanto se você não conseguiu entender na primeira vez, mantenha a calma e aguarde a segunda;
- Mantenha a auto-confiança. Os chineses acreditam que, quando se quer muito uma coisa, essa coisa acontece;
- Não desanime se bater na trave nas primeiras tentativas. Os vestibulares são realmente difíceis e cansativos.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Um Idioma Que Se Vê

Como foi que você aprendeu a sua língua nativa? Provavelmente ouvindo seus familiares e amigos falando-a quando você era criança. Para a maioria das pessoas, o idioma se aprende ouvindo e é expresso pela fala. Ao formular conceito e idéias, pessoas de capacidade auditiva normal automaticamente repassam na mente as palavras e as frases antes de proferi-Ias. Mas, se a criança nasce Surda, pode a mente formular pensamento de outra maneira? Existe um idioma que pode transferir idéias, abstratas e concretas, de uma mente para outra sem jamais emitir um som?

Vista, mas não ouvida

Uma das maravilhas da mente humana é a sua capacidade de linguagem e a habilidade de adaptá-la. Contudo, sem audição, aprender um idoma usualmente passa a ser uma função dos olhos, não dos ouvidos. Felizmente, o desejo de se comunicar arde forte na alma humana, capacitando-nos a vencer qualquer aparente obstáculo. Essa necessidade tem levado os Surdos a desenvolver muitas Línguas de Sinais em todo mundo. À medida que têm entrado em contato uns com os outros, tendo nascido em famílias Surdas, agrupados em escolas especializadas ou na comunidade, o resultado tem sido o desenvolvimento de um sofisticado idioma feito sob medida para os olhos, a Língua de Sinais. Para Carl, um surdo americano, essa língua foi dádiva de seus pais Surdos. Embora nascesse Surdo, desde criancinha já sabia classificar itens, encadear sinais e expressar pensamentos abstratos na Língua Americana de Sinais (ASL).

A maioria dos bebês Surdos que usam a Língua de Sinais começam a produzir seus primeiros sinais por volta dos 10 a 12 meses de idade. O livro A Journey In to the Deaf World (Jornada no Mundo Surdo) explica que "os lingüistas reconhecem agora que a capacidade natural de aprender um idioma e de passá-lo aos filhos está profundamente enraizada no cérebro. Emergir essa capacidade numa Língua de Sinais ou numa linguagem falada é uma questão irrelevante."

Sveta nasceu na Rússia, numa família Surda de terceira geração. Junto com seu irmão Surdo, ela aprendeu a Língua Russa de Sinais. Quando foi matriculada numa pré-escola para crianças Surdas, aos três anos de idade, seu domínio natural da Língua de Sinais já estava bem desenvolvido. Steva diz: “outras crianças Surdas não conhecem a Língua de Sinais, de modo que aprendiam de mim." Muitas crianças Surdas tinham pais Ouvintes que não usavam a Língua de Sinais. Em muitos casos, as crianças Surdas mais velhas na escola ensinavam a Língua de Sinais para as mais novas, ajudando-as a comunicar-se com facilidade.

Hoje, cada vez mais pais Ouvintes aprendem a se comunicar com os filhos por meio de sinais. Assim, esses jovens Surdos podem comunicar-se eficazmente antes de entrar na escola. No Canadá, isso aconteceu com Andrew, cujos pais ouvem. Estes aprenderam a Língua de Sinais e usaram-na com ele desde a tenra idade, provendo-lhe uma base lingüística sobre a qual ele podia edificar nos anos à frente. Agora, a família inteira se comunica sobre qualquer assunto na Língua de Sinais. Os Surdos são capazes de formular pensamentos, abstratos e concretos, sem precisarem pensar numa língua falada. Assim como cada um de nós formula pensamentos em nosso próprio idioma, muitos Surdos fazem o mesmo em sua Língua de Sinais.

Variedade de Línguas

Mundialmente, as comunidades Surdas criaram a sua própria Língua de Sinais, ou incorporaram aspectos de outras Línguas de Sinais. Parte do vocabulário da ASL atual derivou-se da Língua Francesa de Sinais, há 180 anos. Este combinou-se com a forma nativa que já era usada nos Estados Unidos e tornou-se a atual ASL. As línguas de sinais desenvolvem-se ao longo de muitos anos e sofrem refinamentos em todas as sucessivas gerações.

Normalmente, as Línguas de Sinais não seguem os movimentos sócio-geográficos das línguas faladas. Em Porto Rico, por exemplo, usa-se a ASL, mas fala-se espanhol. Embora o inglês seja falado tanto na Inglaterra usa a Língua Britânica de Sinais, que é muito diferente da ASL. Também, a Língua Mexicana de Sinais difere das muitas Línguas de Sinais da América Latina.
Quem estuda uma Língua de Sinais fica impressionado com sua sutil complexidade e riqueza de expressão. A maioria dos assuntos, pensamentos ou idéias podem ser expressos com a Língua de Sinais. Felizmente, há uma tendência crescente de produzir literatura para Surdos em videocassetes, usando a Língua de Sinais para contar histórias, expressar poesia, apresentar relatos históricos, ensinar verdades bíblicas. Em muitos países, o aprendizado da Língua de Sinais está em alta.

Ao ler, os ouvintes em geral recorrem à memória auditiva, ao passo que vão se lembrando dos sons das palavras. Portanto, muito do que lêem é entendido porque já o ouviram antes. Na maioria das línguas, as palavras escritas não retratam, ou não se assemelham, às idéias que representam. Muitos ouvintes aprendem esse arbitrário sistema ou código escrito associando-o com os sons da língua falada, de modo a entender o que lêem. Tente imaginar, porém, jamais ter ouvido, em toda a sua vida, um som, uma palavra ou uma língua falada! Pode ser difícil e frustrante aprender um arbitrário código escrito para uma língua que não se pode ouvir. Não é de admirar que ler tal língua seja um grande desafio para os Surdos, especialmente para aqueles que não têm nenhuma audição residual ou que jamais ouviram.

Muitos centros educativos para crianças Surdas ao redor do mundo já perceberam os benefícios de usar Língua de Sinais bem mais cedo no desenvolvimento lingüístico da criança. Tais centros constataram que expor a criança Surda a uma língua de sinais natural e desenvolver um fundamento lingüístico lançará a base para um melhor desempenho acadêmico e social, bem como para o posterior aprendizado de uma língua escrita.

Uma comissão para educação dos Surdos, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, declarou: "Não se pode mais negligenciar a Língua de Sinais, nem evitar participar ativamente no seu desenvolvimento em programas educativos para Surdos." É preciso que se diga, porém, que seja qual for o método de educação escolhido pelos pais para a criança Surda, a plena participação tanto do pai como da mãe no desenvolvimento da criança é crucial importância.

Compreenda o mundo Surdo

Muitas crianças Surdas que se tornam adultos Surdos dizem que o que mais desejavam era poder se comunicar com os pais. Quando a sua idosa mãe estava à beira da morte. Jack, um Surdo, lutou para dizer-lhe algo, mas não conseguia escrever o que queria e ela não conhecia a Língua de Sinais. Daí, ela entrou em coma e veio a falecer. Jack sentia-se atormentado pelas recordações desses frustantes momentos finais. Essa experiência induziu-o aconselhar os pais de crianças Surdas: "Se desejam uma comunicação fluente e uma significativa troca de idéias, emoções, pensamentos e amor com a criança surda, usem a Lingua de Sinais... Para mim é tarde demais. É tarde demais para vocês?”

Por anos, muitos têm avaliado mal o conhecimento pessoal dos Surdos. Alguns acham que Surdos não sabem praticamente nada, porque não ouvem nada. Há pais que superprotegem seus filhos Surdos ou temem integrá-los no mundo dos Ouvintes. Em certas culturas os Surdos são erroneamente chamados de "mudos" ou "surdos-mudos", embora em geral, eles não sejam vocalmente deficientes. Simplesmente não ouvem. Outros encaram a Língua de Sinais como primitivas, ou inferiores à língua falada. Não é de admirar que, com tal ignorância, alguns Surdos se sintam oprimidos e incompreendidos.

Joseph, criado nos Estados Unidos nos anos 30, ainda bem jovem foi matriculado numa escola especial para crianças Surdas que proibia o uso da Língua de Sinais. Eles e seus colegas de aula muitas vezes foram punidos por usarem Sinais, mesmo quando não entendiam a fala de seus professores. Quando ansiavam entender e ser entendidos! Em países em que a educação de crianças Surdas é limitada, algumas crescem com pouquíssima educação formal. Por exemplo, um correspondente de Despertai na África ocidental disse: "A vida para a maioria dos Surdos na África é dura e sofrida. Dentre todos os deficientes, os Surdos são, provavelmente, os mais negligenciados e menos compreendidos."

Todos nós sentimos a necessidade de ser entendidos. Infelizmente, há pessoas que, ao verem um Surdo, só vêem um "incapacitado". Aparentes inabilidades podem empanar as verdadeiras habilidades dos Surdos. Em contraste, muitos Surdos consideram-se "capacitados". Comunicam-se fluentemente entre si, desenvolvem auto-estima e têm bom desempenho acadêmico, social e espiritual. Infelizmente, os maus tratos que muitos Surdos sofrem levam alguns deles a suspeitar dos Ouvintes. Contudo, quando os Ouvintes interessam-se sinceramente em entender a cultura Surda e a Língua de Sinais natural, e encaram os Surdos como pessoas "capacitadas", todos se beneficiam.

Se você gostaria de aprender uma Língua de Sinais, lembre-se de que as línguas representam como nós pensamos e processamos idéias. Para aprender bem uma Língua de Sinais, a pessoa tem que pensar nessa língua. É por isso que simplesmente aprender sinais de um dicionário de língua de sinais não seria útil para se tornar realmente eficiente nesta língua. Por que não aprender dos que usam a Língua de Sinais no seu dia-a-dia, os Surdos? Aprender uma segunda língua de usuários nativos ajuda a pessoa a pensar e a processar idéias de maneira diferente, porém natural.

Em todo o mundo, os Surdos expandem seus horizontes usando uma rica Língua de Sinais. Venha e veja pessoalmente essa Língua de Sinais.
Este artigo foi reproduzido da revista Despertai!, de 08/09/1998

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Profissional Intérprete

Mãos que falam


O mercado para intérpretes de Libras cresce. Um sinal de que a sociedade desperta para a inclusão.


O intérprete de Libras - a Língua Brasileira de Sinais - está em alta no mercado de trabalho. Qualquer que seja a direção em que olharmos, descobre-se um campo promissor, em expansão e, ainda, pouquíssimo explorado.

O milagre é produzido pelo decreto 5.626/2005, que regulamenta a Libras e a formação educacional do intérprete capacitado a trabalhar com ela. Para entender a importância de seu trabalho é preciso conhecer um pouco da própria Língua Brasileira de Sinais. Suas principais características são a gramática e lingüística próprias e o fato de ela não ser estática - os sinais são incorporados à linguagem de acordo com a necessidade apresentada pela comunidade surda.

Segundo Joel Barbosa Júnior, graduando em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e intérprete na instituição, "havia menos sinais há três anos". De acordo com ele, "certamente haverá muitos mais daqui a três anos". Viva, a língua falada com as mãos tem seu vocabulário enriquecido diariamente - assim como acontece com a Língua Portuguesa.

As condições essenciais para atuar como intérprete é ter domínio da Libras (e também da Língua Portuguesa) e, fundamental, da cultura da comunidade surda e ouvinte - além de boa audição. Sem isso é difícil interpretar corretamente a linguagem oral em sinais. E vice-versa.

É na área de educação que o potencial de desenvolvimento profissional para o intérprete de Libras se mostra mais evidente. Segundo dados de 2005 da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (MEC), pouco mais de 46 mil surdos estão matriculados na escola, com grande concentração na rede pública. De acordo com informações do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existiam 796 mil surdos no Brasil com menos ou até 24 anos de idade. Fazendo uma projeção para números de hoje, temos 873 mil surdos nesta mesma faixa etária. Conclusão: o número de matrículas é irrisório, 5% dos surdos em idade escolar.

Com a tomada de consciência da sociedade em relação à educação inclusiva, é de prever que cada vez mais pessoas com surdez freqüentarão o ambiente escolar nos próximos anos. O déficit atual tende a diminuir. A figura do intérprete será cada vez mais necessária para satisfazer a demanda futura.

O presidente da Associação dos Profissionais Intérpretes e Guias-Intérpretes da Língua de Sinais Brasileira do Estado de São Paulo, Ricardo Sander, pedagogo e intérprete de Libras na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) desde 2002, comenta outros aspectos da profissão. "Temos de ter uma postura ética em qualquer ambiente. Na sala de aula, deve-se estar atento a tudo. Ao professor, aos alunos surdos - e ouvintes - e até mesmo ao que acontece externamente. Precisamos interpretar todas as formas de comunicação." Um desses alunos é Roberto Castilho, 25 anos, com surdez profunda de nascença, que não havia tido ajuda de intérpretes até ingressar no curso de engenharia das telecomunicações da Unicid. Sobre a importância deste profissional na sua formação, o estudante é enfático. "Seria impossível o aprendizado sem ele. Sofri muito nos outros níveis de ensino."

Na Vivo, Castilho não conta com intérpretes fixos, mas sempre que necessário, como em reuniões de trabalho, a figura do intérprete é requisitada. Para o o coordenador do Processo Serasa de Empregabilidade de Pessoas com Deficiência, João Ribas, este é um processo irreversível. "Existe um movimento das empresas no sentido de contratar este profissional. Na Serasa, trabalhamos com dois intérpretes que ajudam nossos onze funcionários surdos."

Quanto à remuneração do profissional, existe consenso de que em instituições de ensino ela deve acompanhar a dos professores. Nas empresas, deve ser equivalente a cargo de igual importância. No caso de profissionais autônomos, os valores devem ter como base a remuneração de intérpretes de línguas orais, com carga horária mínima de duas horas.

A formação acadêmica de intérpretes também ganha impulso. Existem dois cursos superiores de formação de intérpretes de Libras, um na Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e outro na Universidade Metodista de Piracicaba (SP), ambos com duração de dois anos. Disciplinas teóricas e práticas fazem parte do conteúdo programático. "Os alunos são incentivados a conviver com a comunidade surda para haver inserção deles no contexto social. Busca-se, também, um diálogo com tradutores e intérpretes de línguas orais, que, por serem profissionais reconhecidos socialmente há muito tempo, podem contribuir com suas práticas na formação dos profissionais da língua de sinais", explica a coordenadora e docente do curso de Piracicaba, Ana Claudia Balieiro Lodi.

Proposta apresentada na Conferência dos Direitos e Cidadania dos Surdos, em 2000, e referendada em 2005, defende que a formação deve ser parte do curso de graduação de letras - tradutor e intérprete, com duração de cinco anos. "Esperamos que todas as universidades que mantêm cursos de letras possam oferecer essa formação, que acena para um mercado de trabalho promissor", comentam Maria Inês da Silva Vieira e Ricardo Nakasato, coordenadora do Programa de Libras da PUC-SP e professor de Libras da instituição.

Nessa mesma conferência, foi apresentada uma reivindicação antiga da comunidade surda. A implantação de uma central de intérpretes no estado de São Paulo, mantida pelo poder público, que funcionaria 24 horas para ajudar pessoas com surdez em diversas situações - em hospitais e repartições públicas, por exemplo - constituindo-se numa ferramenta de integração. Já existe uma central em funcionamento em Minas Gerais, financiada pelo governo mineiro.

Os profissionais que já atuam como intérpretes terão uma grande oportunidade para formalizar sua situação quanto à formação acadêmica. O MEC, em conjunto com entidades ligadas à comunidade, entre elas a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, realizará em agosto - e pelos próximos dez anos -, exames de proficiência em interpretação de Libras/Língua Portuguesa. Os aprovados terão direito a diploma e serão considerados aptos a bater a porta do mercado de trabalho como qualquer outro profissional de formação superior.

Não se sabe exatamente qual o número de intérpretes de Libras que atuam no país. Nenhum dado estatístico foi levantado nesse sentido até agora. A falta de informações confiáveis impede desenhar o mapa desta carreira e, conseqüentemente, dimensionar que regiões do Brasil estão bem servidas de intérpretes de Libras e quais necessitam de profissionais. O que se sabe é que existe uma grande concentração de profissionais no Sul e Sudeste, e que há uma previsão do MEC de que 2.000 a 3.000 pessoas farão o exame. Informações desencontradas são mais uma característica de um segmento que está se organizando ao mesmo tempo em que se expande. Porém, se faltam informações que permitam tirar conclusões há consenso de que a demanda por este profissional está muito além da oferta. O mercado de trabalho está abertíssimo, embora não existam vagas do ponto de vista formal. Mas elas serão criadas. Tornar-se um intérprete de Libras já pode ser garantia de um futuro promissor.


Reportagem: Paulo Kehdi


Texto retirado do site:
http://www.vezdavoz.com.br/artigos/artigos_maosquefalam.html
em 13/05/2008

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Cultura Surda

A cultura da comunidade surda é muito interessante, ela é tão rica quanto a cultura ouvinte, porém é um mundo dependente do visual, da expressão corporal e facial, do movimento delicado das mãos, das configurações de mão, enfim, da linguagem de sinais.
Na Idade Moderna apareceu um monge chamado Pedro Ponce de Leon, que começou a trabalhar na educação de crianças surdas filha de nobres e autoridades (a elite do governo). O monge criou o alfabeto manual para servir de apoio no ensino da criança surda.

Atualmente a Cultura Surda é um movimento em florescimento. Com a aprovação da lei de Libras (nº. lei 210.436, 24/04/2002), aconteceram muitas surpresas, o respeito ao Surdo agora é obrigatório. Porém os ouvintes ainda manipulam os Surdos. Tanto em sua Língua de Sinais, como em metodologias para o ensino deste. Muitas vezes os ouvintes tem os surdos como fantoches, eles “ensinam” ( entenda–se adestram) algo para os surdos e dizem que ele é capaz, mas na verdade estão querendo tirar, proveito para si, não respeitando o individuo Surdo.

Ainda hoje existem muitos tabus dos ouvintes em relação aos surdos que precisam ser quebrados. É preciso se ter mais respeito em relação à capacidade intelectual dos Surdos, ele consegue perceber as coisas tanto quanto o ouvinte, porém seu meio receptor é diferente, ele percebe o mundo através do visual, (expressão corporal, classificadores.....) tendo a Libras como principal símbolo da sua cultura, que apesar de ser uma língua com pesquisa recente, é uma língua que não perde em nada para outras línguas orais, linguisticamente falando.

A Cultura Surda é responsabilidade da Comunidade Surda, esta deve estrutura-lá, promovendo teatros, festas, incentivando para que o surdo desenvolva sua independência. Aguçar o surdo para criação de pedagogias flexíveis, proporcionado ao surdo superar barreiras e se inserir na sociedade majoritariamente ouvinte.
Surgiram leis para dar acessibilidade à comunicação através da Libras, esta proposta começa a dar um espaço melhor para Cultura Surda, um espaço para a diferença. O desafio agora é: criar políticas para esta diferença!

As leis abriram muitos espaços para os surdos e sua cultura. (espaço foram abertos) os surdos agora dividem muitos espaços com ouvintes, mas na verdade eles apenas dividem o mesmo espaço.

Cultura Surda é o modo diferenciado que um determinado grupo tem de vivenciar as coisas, está é feita através das experiências visuais e por meio destas, o ser Surdo vai formado sua identidade.

Pois força maior que o surdo tem, é a sua língua, haja visto que ela mostra a compreensão que o surdo tem do mundo através do seu modo de olhar.
É importante se difundir as políticas de acessibilidade aos surdos através do vinculo de comunicação visual, para assim então diminuirmos a desigualdade entre surdos e ouvintes. Pois o surdo vive o biculturalismo inexorável entre o mundo auditivo e o visual, do gesto à palavra, iniciando a evolução da comunicação não verbal à verbal (noção – imagem – verbalização). A Cultura Surda tem um despertar interior através da paisagem diferente dos ouvintes que são despertados principalmente através do som.

É necessário assumir e defender a Cultura Surda, assumir um discurso que justifique, que dê legitimidade para os grupos surdos. Exigindo-se um mundo melhor para o surdo, melhorias no trabalho e na sua qualidade de vida, sempre respeitando suas limitações.

A Cultura Surda é a prova de que o Surdo tem uma Identidade Surda. Valorizando sua Cultura e sua língua, estaremos aumentando sua auto-estima, e assim contribuindo para melhorar sua convivência, comunicação e criatividade, sem manipulação dos ouvintes. Vamos lutar pela construção da Cultura Surda.



Núbia Guimarães Faria
Professora Surda de Libras no CAS-GO